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Face de Ozempic: novas drogas contra obesidade fazem o rosto “despencar”

Face de Ozempic: novas drogas contra obesidade fazem o rosto “despencar”
O corpo dos sonhos pode vir acompanhado por um rosto de pesadelo, descobriram usuários da classe de drogas que promove uma revolução no tratamento da obesidade. A pessoa emagrece muito e depressa. Mas o rosto desaba junto com o ponteiro da balança. Se o corpo rejuvenesce, com o rosto o efeito, por vezes, é o contrário. O problema ganhou até nome, segundo o New York Times, cunhado pelo dermatologista americano Paul Jarrod Frank: face de Ozempic, em alusão ao mais conhecido desses medicamentos.

No Brasil e no mundo, a hashtag #ozempicface acumula dezenas de milhões de visualizações e milhares postagens em redes sociais — já se aproximam de cem milhões só no Tik Tok. Famosos e anônimos unidos pela mesma cara. E o problema nada tem a ver com o Ozempic nem algum dos outros remédios propriamente ditos. Eles não fazem o rosto cair.

Isso acontece porque levam a uma perda de peso expressiva e rápida — em alguns casos cerca de 10% do peso corporal. Os primeiros resultados, muitas vezes, já podem ser observados em cerca de uma semana. Mas, como já dizia Catherine Deneuve, “após uma certa idade você precisa escolher entre o seu rosto e a sua bunda”.

O rosto de Ozempic não surpreendeu dermatologistas especializados em estética, já acostumados a atender pessoas que emagrecem muito. O que diferente agora é a quantidade de pessoas e o ritmo em que o rosto fica com a aparência de ter sido chupado.

Para quem tem carteira gorducha, há solução. Mas é cara, assim como as medicações, cujo custo mensal pode ultrapassar facilmente R$ 1.000. O wegovy (semaglutida) , por exemplo, pode chegar a R$ 6 mil.

As drogas são chamadas de mimetizadores de incretina ou remédios baseados em GLP-1. Isso porque são compostos por uma proteína sintética chamada semaglutida, que imita o efeito do hormônio GLP-1 associado à sensação de saciedade. O GLP-1 diz ao cérebro que o corpo está satisfeito. Ou seja, tira a vontade de comer.

Há ainda a droga tizepartida, que atua sobre o GLP-1 e o GLP, hormônio também ligado ao apetite e à saciedade. Nos EUA, a tizepartida foi aprovada com o nome comercial de mounjaro e há expectativa que seja aprovada este ano no Brasil.

Esses medicamentos foram originalmente desenvolvidos para o tratamento do diabetes do tipo 2, mas se mostraram mais eficientes do que qualquer outra droga conhecida para diminuir o peso. Eles chegam a levar à redução superior a um quinto da massa corporal. Mas precisam ser tomados, a princípio, para sempre. E, claro, acompanhado de dieta e atividade física.

É um alto preço que milhões de pessoas têm se disposto a pagar. No Brasil são aprovados pela Anvisa os injetáveis Ozempic (mas apenas para a diabetes, o uso contra a obesidade é “offlabel”) e Wegovy e o Rybelsus (comprimidos).

O impacto no mercado, na medicina e no comportamento tem sido comparado ao do valium contra a ansiedade nos anos 80, ao do prozac contra a depressão nos anos 80 e ao do viagra contra a impotência no fim dos anos 90.

As drogas com semaglutida já movimentam um mercado de US$ 23 bilhões por ano somente contra diabetes. As projeções são de que o uso contra a obesidade faça esse montante chegar a US$ 100 bilhões nos próximos anos.

Mas como não existe, literalmente, almoço grátis para quem quer emagrecer muito e depressa, a conta para recuperar o rosto é pesada.

A partir dos 30 anos, faz parte do processo de envelhecimento perder gordura no rosto. E, por ter menos gordura subcutânea que outras partes do corpo, o rosto fica desproporcionalmente mais magro quando se perde peso, explica a dermatologista Luiza Guedes.

E é por isso que emagrecer muito depressa pode fazer o rosto despencar. A meta pode ser perder gordura no abdômen, no quadril, nas coxas e nas nádegas, mas o ritmo do corpo é outro e o rosto afina primeiro. O efeito é mais acentuado em pessoas que já têm naturalmente o rosto alongado.

A gordura subcutânea dá sustentação à face. Com menos gordura, a pele cai. Fica flácida e a pessoa ganha uma aparência envelhecida e de permanente cansaço. Guedes diz que isso acontece não apenas com a pele, mas também com os cabelos, que podem se tornar mais finos e menos volumosos. O corpo, ao perder gordura, direciona nutrientes para onde são mais necessários, isto é, os órgãos vitais.

“O rosto fica esvaziado, lipodistrófico. Isso costuma ocorrer com quem faz cirurgia bariátrica. O que vemos acontecer agora é o aumento desse problema porque mais pessoas estão tendo acesso a tratamentos que proporcionam emagrecimento rápido”, explica Guedes.

Quanto mais velha a pessoa, pior será o efeito no rosto. A cor da pele também influencia. Pessoas negras têm mais gordura subcutânea na pele e são menos afetadas.