Com causas ainda indefinidas, endometriose leva em média sete anos para ser diagnosticada
Trata-se de uma patologia crônica em que o tecido endometrial cresce fora do útero. Conforme a Sociedade Espanhola de Ginecologia e Obstetrícia (Sego), leva-se em média sete anos para diagnosticar a doença.
Cerca de 190 milhões de mulheres sofrem com esse problema em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS ). Nesta doença, o endométrio, que é o tecido que reveste o interior do útero, encontra-se anormalmente fora da cavidade uterina. A mulher sofre alterações menstruais nos locais onde esse tecido se insere, produzindo sangramento cíclico nessas áreas sem que o sangue possa sair.
O problema pode causar fortíssimas cólicas menstruais, sangramento excessivo, dor abdominal (que às vezes pode ser incapacitante) e problemas para ter filhos ou, diretamente, infertilidade.É diagnosticada por ultrassom ou laparoscopia (uma cirurgia minimamente invasiva), mas Gómez reconhece que é difícil identificar quando está em um estágio inicial. Embora a prevalência desta doença seja alta, não se sabe o que a causa.
Sabe-se que fatores imunológicos e genéticos estão envolvidos, mas a causa ainda é desconhecida”, acrescenta Spagnolo, que trabalha na unidade de endometriose do Hospital de la Paz, em Madri (Espanha).
De acordo com Raúl Gómez, pesquisador principal do Grupo de Investigação de Terapias para Endometriose e Câncer de Endométrio do Health Research Institute (Incliva), há 25 anos as mesmas estratégias — geralmente terapia hormonal — têm sido usadas contra a doença.
Ele atribui isso ao fato de a endometriose nunca ter recebido a devida a atenção. Cientistas se concentraram mais em saber como ela funcionava, como eram as lesões, quais os fatores envolvidos, mas não conheciam tanto os parâmetros da dor. “A endometriose sempre existiu, mas pouco reconhecida”, lamenta.
Para conviver com a doença, a enfermeira segue um tratamento hormonal à base de antiestrógenos, que reduzem os níveis de estradiol, o hormônio que causa a proliferação da endometriose, esclarece Gómez.
Acontece que as drogas acabam induzindo uma pseudomenopausa que pode causar os mesmos sintomas do climatério, como ondas de calor, desequilíbrios hormonais e início da osteoporose , diz o especialista. Outras opções são cirurgia, anti-inflamatórios e analgésicos opioides, os dois últimos em casos leves.
Cirurgias
Entre 10% e 15% das mulheres que se submetem à cirurgia conservadora (sem retirada do útero) voltam a ter a doença um ano depois, número que sobe para 40% e 50% após cinco anos, segundo pesquisadores. Agora há uma tendência de limitar as intervenções cirúrgicas a casos muito específicos.
Entre 30% e 35% das mulheres com problemas de fertilidade sofrem de endometriose. Essa condição faz com que os ovários funcionem menos e, em muitos casos, com baixa reserva ovariana, comenta sua colega de trabalho, Silvia Iniesta. Todas as mulheres podem ver a sua fertilidade reduzida a partir dos 30 anos, mas no caso daquelas que têm desta patologia, a idade implica um risco ainda maior para quem pretende ter filhos.
Em busca de solução
Um dos objetivos atuais dos especialistas é a detecção precoce. “Detectá-lo em seus estágios iniciais e tratá-lo desde o início melhora a qualidade de vida de quem sofre, porque a dor e a duração do problema serão menores”, acrescenta um especialista de Madrid.
Existem estudos que buscam marcadores no sangue (proteínas ou metabólitos) que permitem detectar alterações identificáveis com o desenvolvimento da doença. Até agora, nenhum funcionou, pois, embora em algumas pacientes aparecessem elevados, em outras poderiam ser confundidos com os valores de dor causados por outras patologias, acrescenta o pesquisador.
Outros trabalhos se concentram em encontrar a origem da doença. Em relação ao tratamento, embora se busquem alternativas aos hormonais, nenhuma ainda deu resultado. Um estudo recente utilizou um componente encontrado nas folhas de oliveira para tratar a endometriose em camundongos. A substância retardou o crescimento das lesões causadas pela doença, mas não foi possível determinar se reduziu a dor.