Venezuela: Maduro prende 120 menores. Adolescentes são levados de casa no meio da madrugada e torturados na cadeia
As forças de segurança de Nicolás Maduro prenderam 120 menores na onda de repressão pós-eleitoral, segundo organizações de defesa dos direitos humanos. Eles estão entre as mais de 1,6 mil pessoas detidas nos protestos ou levadas de casa no meio da noite, em muitos casos, sem mandados.
“A polícia está detendo pessoas a uma velocidade nunca vista na história da Venezuela, nem mesmo durante as repressões de 2014 e 2017 ”,afirmou a diretora para as Américas da ONG Human Rights Watch, Juanita Goebertus.
A família de um dos desaparecidos contou à reportagem do Washington Post que teve a casa invadida na madrugada por 17 oficiais militares, que apontaram fuzis para uma mulher de 40 anos e seu filho de 5. Eles prensaram contra parede seu outro filho de 15 anos, o algemaram e o arrastaram para uma van.
Depois, o menor contou à mãe que foi torturado, teve a cabeça pisoteada, tórax, costelas e braços, machucados. Mãe e filho conversaram com o Washington Post sob condição de anonimato, em razão das ameaças de morte. A mãe e a criança de 5 anos passaram a noite na cadeia, mas o adolescente ficou preso 20 dias. E foi impedido de receber visitas por uma semana.
O procurador-geral, Tarek William Saab, principal autoridade policial da Venezuela, não respondeu a pedidos de comentário. Todos os menores, segundo seus advogados, foram acusados de terrorismo. Mais de 100 seguem sob custódia.
Tortura
Foram entrevistadas cinco famílias de adolescentes presos. Todos foram levados para reformatórios sob controle militar. Alguns foram forçados a saudar uma foto de Maduro e pronunciar a expressão “Chávez vive”, em homenagem a Hugo Chávez, o ditador morto em 2013. Todos disseram ter sofrido algum tipo de tortura física.
Maduro diz ter vencido a eleição do dia 28 de julho, mas não apresentou as atas de votação. Desde então, ele vem reprimindo qualquer protesto que questione o resultado oficial. Mais de 20 manifestantes morreram – um deles tinha 15 anos.
A Venezuela experimentou ondas de agitação no passado, mas grupos de defesa dos direitos humanos afirmam que a atual campanha é a que tem mais presos políticos. O número de menores detidos é maior do que o das mais notórias ditaduras da região: a de Rafael Videla, na Argentina, que prendeu 151 menores em sete anos, e a de Augusto Pinochet, no Chile, que colocou 956 menores atrás das grades, de 1974 a 1990 – cerca de 56 por ano.
Maduro prendeu pelo menos 120 adolescentes em menos de um mês, a maioria em bairros pobres. Ninguém teve acesso a advogados ou contato com as famílias. “Antes, pelo menos tínhamos acesso aos presos e estávamos presentes se houvesse tortura”, disse Alfredo Romero, presidente da ONG Foro Penal. “Agora, todo mundo tem medo de falar.”
Muitas denúncias
Os defensores dos direitos humanos têm tido dificuldades para acompanhar tantos casos. Dúzias de famílias entram em contato com o Foro Penal diariamente. Advogados do grupo de ajuda Fundehullan trabalhavam com cinco menores, quando eles começaram a receber ameaças. Agora na clandestinidade, eles estão orientando os clientes pelo WhatsApp.
“Há uma ação direcionada contra ativistas de direitos humanos”, afirmou o advogado Luis Armando Betancourt, do Estado de Carabobo, onde 23 adolescentes foram presos. “Mesmo com autorização da família, eles não nos permitem acessar nenhum.”
Ameaças
Depois da prisão do adolescente de 15 anos, seu pai disse que recebeu mensagem de texto de uma autoridade de segurança exigindo 10 mil dólares por sua libertação. Um agente da Guarda Nacional afirmou que limparia a ficha do filho por 500 dólares. “Como posso pagar por isso se ganho 1,8 mil dólares por mês no restaurante de Las Vegas onde trabalho?”, conta o pai, que vive nos Estados Unidos.
A família de outro adolescente de La Guaira contou que tentou visitar o filho numa prisão de Caracas, mas os guardas pediram 3 dólares pela comida e 5 dólares para visitá-lo por uma hora. “Tivemos de escolher”, disse o pai. “Ou lhe dávamos um abraço ou comprávamos sua comida, e nós lhe demos comida. Não tínhamos dinheiro para mais do que isso.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.