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Cristina Lacerda – Silêncio! Ouço vozes… Silêncio!

Cristina Lacerda – Silêncio! Ouço vozes… Silêncio!

Até a década de 1970 e posso afirmar isso, pois vivi de 1976 a 1981, sendo secretária de educação de Eunápolis e de todos os municípios que pertenciam a Santa Cruz Cabrália, não havia nas escolas públicas brasileiras, registro de violências, pois os debates da época restringiam a abertura democrática.
O problema da violência nas escolas começa no período pós – abertura (1982) e “concretiza” na década de 1990, em que passamos a ver depredações dos prédios públicos , invasões, violência de pais contra professores, fortes ameaças de alunos para professores e brigas internas entre os próprios alunos.
Com a intensificação do uso de drogas por parte de adolescentes e ação do crime organizado e do tráfico, passamos a ter vunerabilidade no espaço em que deveria ser o espaço de conhecimento, ideias, crescimento, e dessa forma, a escola sofre com os impactos vindos de fora para dentro de seu contexto.
Sabemos que a violência significa ” incivilidade “, isto é, ignorância, falta de educação, falta de controle mental.
Passado alguns dias desde a última tragédia ocorrida em Aracruz cidade do Espírito Santo percebo que vivemos essa situação silenciosamente e vamos nos acostumando com as mil informações que batem toda hora nas redes sociais, através da imprensa escrita e falada, enfim, em geral e esquecemos tudo que passou… ontem.
As notícias de agressividade começam em conta gotas, sem que percebamos.
Há relato de que em uma Escola da Rede pública de Eunápolis, existe uma agressão velada contra uma professora há algum tempo, desde que a mesma vem exercendo sua função por via de processo seletivo com êxito, e, infelizmente, culminou com uma agressão física, feita por uma colega que hierarquicamente ocupa um cargo de vice-direção escolar, portanto, sua “superiora”. Tomada por surpresa quando chegava à Escola desembarcando de um ônibus com seus alunos, proporcionado pela Secretaria de Educação, a Professora foi agarrada pela blusa, com gritos, visto a mesma ter passado “por cima” de sua autoridade. Há testemunhas de que essa agressão foi na presença de alunos, pais e do condutor que transportava os mesmos.
O que de fato estamos semeando no pátio das Escolas?
Que moral temos para cobrar dos pais, posicionamentos se no contexto escolar estamos praticando os mesmos atos que trazem os alunos de seu contexto familiar?
Será que quando eu chamo minha colega professora de ” negrinha” na presença de outros profissionais, eu não estou passando pelo buraco da fechadura, um ensinamento para meus alunos? E como chamo isso hoje? “Bullying”? Ou só é uma “brincadeirinha”?
Rousseau já dizia que: “o homem é produto do meio”… e o que a escola, eu e você estamos fazendo nesse meio em que vivemos?
Se quisermos melhorar nosso espaço profissional, não será com a prática de tais atitudes que conseguiremos.
Fico aqui com dor profunda em meu peito a indagar-me:
Por que a invasão nas escolas?
Por que a invasão num espaço público com um público tão específico?
Por que o espaço deliberado para atos tão frios, mesquinhos, rancorosos e
egoístas, tem que ser logo o espaço que se educa formalmente?

Silêncio!
Ouço vozes…
Silêncio!